Se você ver esta impressionante criatura na areia, nem pense em chegar perto

Quando Hunter Lane avista algo brilhando na areia, seu passeio pela praia de repente fica muito mais animado. Aquela fascinante criatura azul parecia ser algum tipo de água-viva que era diferente de qualquer coisa que Hunter já tenha visto antes. Ele questiona-se, então, se havia descoberto uma nova espécie. Curioso, o garoto recolhe o misterioso animal para mostrar aos seus pais. No entanto, como Hunter está prestes a descobrir, esta é a última coisa que ele deveria ter feito.

Devido à marcante cor e peculiar forma deste ser, não é difícil perceber por qual motivo acabou chamando a atenção de Hunter. Afinal, o deslumbrante tom azul do animal contrasta fortemente com a areia dourada da praia. Ao aparecerem no litoral do Texas, portanto, tais criaturas devem ter surpreendido bastante gente.

Porém, não é apenas a atraente coloração desses seres que desperta o interesse do pessoal nas praias. Como seu formato lembra a algo parecido com um dragão, isto também acaba deixando as pessoas curiosas. Com pontas de tonalidade mais escura, a propósito, as bizarras "asas" são projetadas em diferentes lugares nas laterais do corpo do animal.

Logo, assim como Hunter, muita gente pode pensar, de início, que estas criaturas são desconhecidas pela ciência. A verdade é que, apesar dos especialistas saberem dessa espécie, tais seres são incrivelmente raros - e perigosos. Tanto que é por isso que as pessoas devem seguir as orientações dos profissionais especializados em fauna silvestre.

Aliás, o parque nacional Padre Island National Seashore (PINS) chegou a emitir um alerta sobre esses animais. De acordo com a unidade de conservação, caso você veja algum tipo de vida silvestre de cor azul elétrica nas praias, não se aproxime de maneira alguma. Ou seja, fique longe e não toque, até porque estes espetaculares visitantes representam uma grande ameaça.

Contudo, Hunter infelizmente não sabia dessa recomendação - e não tinha ideia do que havia encontrado ao longo da costa naquele dia. O garoto de sete anos fez sua incrível descoberta em uma das praias que fazem parte do Padre Island National Seashore. Ele estava visitando o local com seus pais, Trey e Leah Lane, em maio de 2020, quando avistou uma daquelas criaturas.

As autoridades da Ilha do Padre relatam que Hunter foi um dos primeiros na praia a encontrar animais raros. Entretanto, o que exatamente a criança buscava na areia? Bem, Trey contou à CNN que foi a paixão de seu filho por animais aquáticos que o levou a aquele achado.

"Hunter adora criaturas marinhas e pensou ter encontrado um botão azul, [conhecido como Porpita porpita]", Trey informou mais tarde à rede de notícias de TV. Inclusive, confundir as espécies pode ser comum de acontecer, porque elas não só possuem a mesma coloração, como também crescem até um determinado tamanho.

Foi por essa razão, então, que Hunter pegou aquele ser - usando um de seus brinquedos - e o levou para seu pai ver. Todavia, ao voltar da praia, o curioso menino já suspeitava que havia encontrado algo completamente diferente. "Ele afirmou para mim que tinha descoberto uma nova espécie", relatou Trey.

Hunter estava encantado com sua descoberta. Leah lembrou que seu filho "queria muito tocar" no animal por conta de sua aparência mole. No entanto, ainda que tivesse pouca idade, Hunter sabia que isso seria um erro. Esperto, ele decidiu, portanto, não encostar na fascinante criatura.

Depois, a propósito, o PINS identificou o ser como um Glaucus atlanticus, denominado também de dragão azul. Como não era o que Hunter havia pensado inicialmente, o que de fato é aquela espécie? Pois é, a criatura é um molusco, o que a coloca no mesmo grupo das amêijoas, polvos e caramujos. Embora isso não pareça nada ameaçador, aguarde até saber o que estes animais são capazes de fazer.

Os representantes da família dos moluscos, aliás, são invertebrados, o que significa que são seres de corpo mole que não possuem coluna vertebral. Alguns deles, como os caramujos, desenvolveram conchas para sua própria proteção. Os dragões azuis, por outro lado, são lesmas-do-mar pertencentes ao grupo dos moluscos nudibrânquios, os quais jamais desenvolvem conchas.

Inclusive, este nome faz referência aos órgãos respiratórios externos desses organismos. Apesar de se assemelharem a espinhos e tentáculos, não passam de brânquias externas, as quais são responsáveis por garantir as trocas gasosas. Acerca dos tentáculos, porém, estas criaturas realmente dispõem desses apêndices.

Os tentáculos dos nudibrânquios são chamados de rinóforos. Eles geralmente crescem em pares na cabeça de um molusco e atuam como órgãos sensoriais. Ou seja, os representantes desse grupo utilizam os rinóforos a fim de detectar suas potenciais fontes de alimento, que são as causadoras da exuberante pigmentação deles.

Bem, a cor de um resplandecente dragão azul é típica dos nudibrânquios, os quais costumam ter vívidos tons. Contudo, ainda que haja algumas exceções, a impressionante coloração desses animais é resultado de sua dieta. A propósito, estas criaturas são encontradas nas profundezas do oceano, entre corais e anêmonas-do-mar - que servem de petisco a esses moluscos.

Assim, os corais e as anêmonas-do-mar apresentam-se não só vantajosos à dieta dos nudibrânquios, como também ideais para que aquelas criaturas se camuflem. Aliás, não deixe com que a encantadora tonalidade dessas lesmas-do-mar o engane, elas são agressivas caçadoras. Tais predadores alimentam-se de presas que muitas outros animais preferem evitar e até mesmo de sua própria espécie.

Considerando o voraz apetite e o intimidante nome dos dragões azuis, você provavelmente os imagina como gigantes do oceano. Entretanto, se for esse o caso, prepare-se para uma surpresa: estes seres atingem, em média, somente três centímetros de comprimento. Pois é, embora as lesmas-do-mar sejam pequenas e não cuspam fogo, elas vivem como os dragões em outros aspectos.

A razão pela qual essa espécie é denominada de dragão azul envolve a similaridade da aparência dos dragões e do modo como se movem. Com apêndices nas laterais do corpo, as lesmas-do-mar parecem voar pela água. Todavia, a coisa mais surpreendente sobre isso é que essas criaturas conseguem nadar do avesso; com a parte azul virada tanto para cima quanto para baixo.

Conforme a Smithsonian Magazine, estes graciosos seres possuem bolsas estomacais as quais se enchem de gás para auxiliar na sua flutuação. Inclusive, a impressionante pigmentação dos dragões azuis estão, na realidade, na parte de baixo. Logo, para exibi-la, é necessário que essas criaturas se virem. Dessa forma, qualquer predador que passe de cima notará a tonalidade e não ousará partir para o ataque.

Enquanto isso, a cor azul do corpo dessa espécie também pode ocultá-la dos predadores os quais estão em baixo. Agora, a questão é: por que esses seres, que normalmente vivem em águas tropicais, estavam aparecendo nas praias do Texas? Como tais animais não são nativos da região, isso deixou tudo ainda mais intrigante.

Geralmente, estas criaturas são encontradas nos oceanos ao redor da Austrália, África do Sul e Moçambique. No entanto, esta não é a primeira vez que esses animais chegam ao litoral estadunidense. O Florida Today informou sobre outras ocasiões em que os dragões azuis apareceram em solo norte-americano nos últimos anos. Em 2017, por exemplo, muitos deles foram levados à areia da praia.

Naquela época, as raras lesmas-do-mar surpreenderam o pessoal de Cabo Canaveral ao chegarem de maneira inesperada. O Florida Today, porém, contou que diversas pessoas não tiveram tanta sorte nem foram tão espertas quanto Hunter. Além disso, as autoridades do esquadrão Brevard County Ocean Rescue mencionaram que alguns indivíduos haviam tocado nos dragões azuis - e descobriram, na prática, o porquê dessas criaturas serem chamadas desse jeito.

Contudo, a fascinante coloração e o interessante formato dos dragões azuis renderam a eles nomes bem menos intimidadores. Algumas pessoas, portanto, conhecem essa espécie como andorinha-do-mar ou anjo-azul. A verdade é que estes apelidos apenas ocultam ainda mais as impiedosas características das lesmas-do-mar. Entretanto, os humanos estão cientes desses seres há séculos.

Em 1777, alguns exploradores encontraram um dragão azul e registraram a experiência. Todavia, só capturaram um espécime vivo após quase cem anos daquele ocorrido. Tal proeza foi realizada pela tripulação de uma famosa expedição que partiu de Londres, Inglaterra, em 1872. Esse aclamado navio tratava-se do HMS Challenger.

O Challenger foi transformado em um laboratório marítimo especialmente projetado para explorar o oceano e catalogar o que era encontrado. A jornada da equipe revelou cerca de 4.700 espécies as quais eram antes desconhecidas pela ciência, levando, assim, tais espécimes de volta à Inglaterra. A propósito, um desses achados era um dragão azul de 1,2 cm que foi conservado em glicerina pelos cientistas.

O dragão azul do Challenger foi doado mais tarde ao Museu de História Natural de Londres e, ainda hoje, permanece lá. De todo modo, o que faz exatamente com que estas belas criaturas sejam tão perigosas? Bem, a chamativa cor delas já dá uma dica. Para esclarecer esta pergunta, no entanto, é necessário tratarmos sobre os hábitos alimentares desses animais.

Lembra que informamos acerca das questionáveis escolhas digestivas que os dragões azuis costumam fazer? Pois é, as águas-vivas e outros venenosos animais marinhos estão abaixo deles na cadeia alimentar. Afinal, os nudibrânquios desenvolveram um método não só para se sustentarem, mas também para usarem sua dieta como meio de defesa. Para ser mais específico, tais seres ingerem a toxina de criaturas que são muito maiores que eles.

Os dragões azuis até mesmo vão para cima de cnidários, como a caravela-portuguesa, a qual é erroneamente confundida com uma água-viva. A caravela-portuguesa é, na realidade, um agrupamento de seres que vivem e agem como um organismos só, conhecida por ser um sifonóforo. Porém, tanto a caravela-portuguesa quanto a água-viva possuem algo em comum: uma série de venenosos tentáculos.

Estes tentáculos, aliás, são uma das quatro formas de vida que constituem uma caravela-portuguesa, sendo revestidos com tóxicos nematocistos. A espécie utiliza-os, então, para matar ou atordoar suas presas. Contudo, um dragão azul não se intimida com isso; ele é imune à picada e apenas vê os tentáculos como uma potencial refeição. É aí que a bolsa estomacal de flutuação da lesma-do-mar entra em ação.

Um dragão azul nada até sua presa e se agarra a ela. Em seguida, alimenta-se dos nematocistos, bebendo a toxina e absorvendo-a em seu próprio corpo. A verdade é que esta lesma-do-mar tem grandes nematocistos nas extremidades de suas brânquias, que são denominados de cerata. Logo, é daí que vem a cor do dragão azul.

Tal espécie emprega sua toxina, que pegou emprestada, para defender-se dos predadores. Entretanto, esta criatura possui algo a mais. Como a toxina está concentrada em um determinado local, ela é ainda mais intensa do que quando é utilizada por uma caravela-portuguesa. Assim, este é o motivo pelo qual você não deve tocar em dragões azuis; a dor seria enorme.

Acerca da descoberta de Hunter na Ilha do Padre, o PINS publicou em sua própria página do Facebook, no mês maio de 2020, algumas fotos do menino. As imagens foram acompanhadas de um sensato aviso para aqueles que pudessem estar fascinados por essas coloridas criaturas. Na legenda constava as seguintes palavras: "Aqui há dragões".

O PINS prosseguiu: "Os dragões azuis são muito pequenos, possuindo geralmente apenas três centímetros. Todavia, não se deixe enganar pelo tamanho; eles têm uma defesa digna de seu nome, de um dragão". Além disso, a página da unidade de conservação orientou que as pessoas observassem, mas jamais tocassem. "Se você avistar um dragão no parque, aproveite, pois eles são raros de encontrar, no entanto, não se esqueça de manter a distância!".

Tanto Leah quanto Hunter admitiram que, de início, tocar o dragão azul foi bastante tentador. A mãe de Hunter contou à estação de TV KSAT: "Hunter realmente queria tocá-lo. Eu não o culpo. Eu também queria, porque eles parecem ser bem macios e moles. Porém, decidimos que, como não tínhamos a menor ideia do que era aquilo, seria melhor não colocar a mão".

Leah continuou: "Depois disso, Hunter disse: 'Ele pode ser como um sapo venenoso, mãe. Ele tem uma cor muito viva, o que é um sinal de aviso'. Garoto esperto". Contudo, ainda há o mistério sob a razão dos dragões azuis terem chegado à Ilha do Padre.

À CNN, Trey informou que, nos últimos 30 anos em que visitou a Ilha de Padre, nunca havia visto um dragão azul até aquele momento. Inclusive, ele não foi o único a se surpreender com essas incríveis lesmas-do-mar. Jamie Kennedy, porta-voz dos PINS, comentou que aquela também foi uma experiência nova para ela.

Kennedy revelou que trabalha no PINS há dois anos e que aquela era sua primeira vez avistando um dragão azul. Conforme a página do Facebook do PINS, houve um aumento das aparições dessa espécie nos últimos anos. A propósito, o parque nacional chegou a publicar algumas fotos e informações desses animais em 2016.

"Muitas pessoas estão encontrando [dragões azuis] ultimamente", comentou Kennedy. A porta-voz possuía uma teoria sobre o motivo daqueles seres estarem aparecendo na Ilha do Padre. Ela acreditava que um grande grupo deles encalharam de uma só vez e foram se espalhando pelo litoral. Os especialistas concordaram com isso.

Como, por exemplo, um outro porta-voz do PINS, segundo a KSAT. Ele relatou: "Bastante gente está encontrando [essa espécie] recentemente. Isto costuma acontecer com animais que foram trazidos em bando". Em maio de 2020, outro especialista em fauna silvestre confirmou isso e discorreu sobre o assunto em uma entrevista à estação de TV KVEO.

David Hicks, da Universidade do Texas Rio Grande Valley, explicou à KVEO que era tudo ou nada em relação às aparições dos dragões azuis. O professor e diretor da Escola de Ciências do Mar disse: "É bem raro. Não vemos muitos deles, mas são relatados no Texas. Esta comunidade de organismos meio que andam por aí em massas de água. Se você avistar um, logo verá mil deles".