Em um porão de uma casa na Flórida, um predador de 5 metros de comprimento foi descoberto

Já iremos adiantar que não havia nenhum jacaré no porão. Se tivesse, aliás, seria uma descoberta até comum naquela região da Flórida. O que se encontrava lá, no entanto, era algo completamente diferente. Quando dois homens se depararam com aquele animal, eles perceberam na hora que estavam em perigo. Afinal, o predador tinha pelo menos 5 m e uns 75 kg. O pior era que aquele intruso não estava sozinho...

As pessoas que acharam aquela criatura sabiam que iriam precisar da ajuda de um especialista para removê-la dali. Porém, quando o profissional chegou, ele foi surpreendido pelo tamanho do animal. Mesmo com toda a sua experiência, foram raras as ocasiões em que o especialista havia presenciado algo parecido com aquilo. Portanto, o que aconteceu ali?

Aquele predador era não só fatal para os seres humanos, como também uma verdadeira ameaça para a vida selvagem local, sendo conhecido por devorar gambás, coelhos, linces e veados. Inclusive, uma criatura daquele tamanho tem a capacidade de enfrentar presas bem maiores. Certa vez, um de sua espécie foi visto se deliciando com um jacaré de mais de 2 m de comprimento!

Assim, ao descobrirem o letal animal debaixo de uma casa em uma ilha de Everglades, na Flórida, aqueles dois homens acabaram por chamar o ambientalista local Ron Bergeron. O trabalho de Ron rendeu a ele o apelido de "Jacaré Ron", contudo, sua experiência com jacarés não serviria em nada naquela missão.

O que quer que eles fizessem, não seria fácil. Em alerta, o predador chegou a rastejar sob as tábuas do piso da antiga casa. Além disso, havia o fato da criatura estar acompanhada. Logo, ao invés de agir apressadamente, Bergeron parou para pensar acerca do que deveria ser feito.

O que também intrigava o especialista era a localização geográfica do animal. Ele já havia visto outros espécimes daquele na Flórida, claro, mas nunca tão ao norte. Bergeron comentou que a maioria desses predadores vivia a uns 16 ou 32 km ao sul de onde aquele se encontrava no momento. Ou seja, péssima notícia para o pessoal de Everglades.

Bergeron fez questão de avisar os moradores de Everglades que aquela criatura fazia parte de uma espécie invasora, não pertencendo à área. A propósito, como o animal é conhecido por ter um grande apetite, aquilo significava que tanto os humanos quanto a vida selvagem nativa daquela região estavam em perigo.

De qualquer modo, o pessoal da Flórida já se encontrava acostumado a viver com selvagens habitantes. Eles viam direto, por exemplo, peixes-bois nadando por aí e linces-pardos e cariacus vagando pelos pastos. Os mais atentos dos residentes conseguiam até avistar alguns membros de espécies mais ameaçadas, como a pantera-da-Flórida ou o crocodilo-americano.

Aliás, muitas das mais de 350 espécies de aves nativas da área são incrivelmente raras. Tanto que, de acordo com o governo dos Estados Unidos, a grande e graciosa cabeça-seca corre risco de extinção. Esta pernalta e elegante ave é adorada tanto pelos amantes de aves quanto pelos fotógrafos de natureza.

Nesta lista de animais ameaçados de extinção, temos o pardal-à-beira-mar-de-Cape-Sable (Ammospiza maritima mirabilis), o gavião-caramujeiro e o pica-pau-de-crista-vermelha (Leuconotopicus borealis). As aves, entretanto, não são consideradas uma ameaça aos humanos. Então, o que será que se esconde nos pântanos da Flórida e pode representar um verdadeiro perigo para qualquer um nas proximidades?

Apesar do peixe-boi-marinho ser talvez o morador mais diferente de Everglades, o sossegado mamífero apresenta-se mais como um gentil gigante do que uma ameaça. Estas criaturas deslizam suavemente pela água e procuram os humanos por companhia ou fonte de calor. Um importante detalhe é que os peixes-bois se alimentam, em sua maioria, de plantas aquáticas. Portanto, do ponto de vista de Bergeron, não são uma preocupação.

Na realidade, os humanos que costumam ser uma ameaça para os peixes-bois. Até porque estes animais são tão lentos que podem se mostrar vulneráveis a efêmeros riscos. Às vezes, por exemplo, eles não conseguem desviar de barcos em alta velocidade, os quais podem mutilar ou matar qualquer criatura no caminho.

De toda forma, embora o peixe-boi também esteja na lista de espécies ameaçadas, um dos animais mais raros de Everglades é a pantera-da-Flórida. Infelizmente, estes selvagens felinos já foram desejáveis troféus para caçadores, por isso grande parte acabou sendo dizimada. Os ambientalistas acreditam que haja menos de 100 dessas criaturas em seu habitat natural.

Todavia, o mesmo não pode ser dito a respeito de alguns outros habitantes de Everglades, como o urso-negro-da-Flórida, o qual é considerado como um dos animais mais perigosos do estado. Porém, a criatura está próxima de ser extinta, tanto que os membros da espécie raramente são vistos no parque nacional. Dessa maneira, você com certeza não encontrará um urso-negro-da-Flórida escondido em um porão.

No entanto, algo que diversos residentes de Everglades não faziam ideia é de que as águas daquela região contam com tubarões. Pois é, o lugar possui uma variedade deles, como o tubarão-limão e o tubarão-galha-preta, cujas funções corporais se adaptaram à água doce dos pântanos da Flórida. Inclusive, uma das espécies mais perigosas está por ali.

Em busca de presas, o agressivo tubarão-cabeça-chata é testemunhado às vezes rondando pelos canais de Everglades, pela foz dos rios e ao redor dos cruzeiros na costa. Contudo, ainda que estes predadores sejam conhecidos por emboscar humanos, eles normalmente preferem se alimentar de animais menores.

Já em outras partes das águas de Everglades, certos tipos de peixes podem representar uma ameaça aos humanos. Eles costumam ser atraídos por qualquer coisa chamativa que os nadadores estejam usando, como joias. Afinal, isto faz com que as criaturas pensem que há presas na água. Os marlins, por sua vez, são mais perigosos aos pescadores da região.

Além disso, alguns ataques vindos debaixo d'água podem acontecer do nada. Por exemplo, apesar do peixe-agulha chegar de um jeito despretensioso - com seus 30 cm de comprimento e menos de meio quilo de peso -, sua afiada boca é um perigo. Mesmo que este animal não tenha fama de matar humanos, ele é capaz de causar um estrago.

Os peixes-agulhas tendem a viver nos corpos de água próximos da costa. Entretanto, caso estejam fugindo de predadores ou perseguindo suas presas, podem acabar indo além e saltando da água. Assim, qualquer coisa que fique no caminho de um peixe-agulha sentirá como sua boca é afiada.

Depois, há a vespa-do-mar; a criatura mais venenosa do oceano. A propósito, há entre 20 e 30 variedades deste animal, chegando a medir desde menos de 2,5 cm até 3 m. Todavia, independentemente do tamanho de uma vespa-do-mar, ela deve ser evitada, pois é capaz de injetar veneno o bastante para matar um ser humano em dois minutos.

No entanto, os predadores mais famosos de Everglades são os jacarés, os quais por vezes são confundidos com os crocodilos. De qualquer modo, existe uma forma fácil de distingui-los. Enquanto os jacarés possuem focinhos largos e arredondados e são comuns em toda a Flórida, os crocodilos têm cabeças finas e vivem apenas nas regiões mais ao sul do estado.

Enfim, os crocodilos podem ser tão cruéis quanto os jacarés, ainda que a variedade americana seja menos agressiva que muitas outras ao redor do mundo. De toda maneira, como os jacarés tendem a atacar quando se sentem ameaçados, eles também devem ser evitados. No final das contas, Bergeron e sua equipe ficariam felizes em manter distância de qualquer uma dessas criaturas!

Porém, o que Bergeron descobriu naquele porão era algo bem mais ameaçador do que grande parte da vida selvagem nativa de Everglades. O predador consistia em uma píton-birmanesa - e, ao que parece, uma cobra daquela espécie chegou a engolir um jacaré inteiro por aí.

Com cerca de 75 kg e 5 m, aquela píton era a segunda maior que Bergeron havia visto. Tanto que somente por 30 cm que aquela serpente não foi considerada a mais longa já medida na Flórida. O mais assustador de tudo, entretanto, é que a fêmea estava protegendo um ninho com uns 50 ovos.

Este assustador réptil foi encontrado sob uma casa no condado de Broward que fica a 6,5 km de Alligator Alley. O Alligator Alley - "Trecho do Jacaré" em uma tradução literal para o português - é um trecho de quase 130 km de asfalto que passa pelo Parque Nacional de Everglades. Como o nome da pista sugere, é um privilegiado local para observar os jacarés. Logo, a vida selvagem nativa dessa área corre mesmo risco de extinção, todavia, por causa de uma específica espécie.

Aliás, a píton-birmanesa costuma possuir uma natureza tranquila e isto, combinado a sua atraente pele, faz da espécie a favorita entre os donos de cobras. Estes animais, contudo, podem crescer rapidamente e ficar enormes. Então, quando elas se tornam grandes demais para seus donos lidarem, acabam agindo de um jeito agressivo. Ataques, portanto, não são raros e têm sido fatais.

A dieta da serpente é composta só de carne, como aves e pequenos mamíferos. Inclusive, já que a visão da píton não é muito boa, ela depende de receptores de calor que revestem suas mandíbulas e sensores químicos em sua língua. Para uma píton-birmanesa, matar é um ato de força bruta.

Esta espécie mata por constrição, ou seja, elas envolvem o próprio corpo ao redor da presa após prendê-la entre os dentes e começam a apertá-la até que morra por asfixia. Considerando o quão flexíveis são as mandíbulas de uma píton-birmanesa, esta cobra é capaz de devorar sua refeição de uma vez só.

A propósito, as jovens pítons-birmanesas costumam ser encontradas nos troncos das árvores, diferente das serpentes mais velhas. Afinal, estas criaturas podem chegar a aproximadamente 7 m e 200 kg, ficando quase do tamanho de uma árvore e tão grossas quanto um poste.

Assim, isto tudo faz da píton-birmanesa uma das maiores - e mais letais - cobras do mundo. Para piorar a situação, a serpente é uma experiente nadadora, conseguindo permanecer debaixo d'água por meia hora antes de retornar à superfície. Logo, o pântano de Everglades apresenta-se o lugar ideal para a espécie prosperar - e é aí que está o problema.

As pítons-birmanesas são nativas do Sudeste Asiático, e não da Flórida. Estes répteis foram introduzidos na região pelos entusiastas da espécie há mais de duas décadas. No entanto, essas cobras nem sempre deram certo como animais domésticos.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, algumas dessas serpentes de estimação escaparam de casa - ou foram soltas por aí. Então, a píton-birmanesa é agora considerada uma espécie invasora sem nenhum outro predador natural para manter sua população sob controle. O pior é que, devido ao gosto da cobra pelos mamíferos de Everglades, a fauna da área corre perigo.

Em 2019, Bergeron explicou ao South Florida Sun Sentinel: "A píton-birmanesa representa uma significativa ameaça à Everglades por interromper a cadeia alimentar natural". Porém, as ações do ambientalista impediram um afluxo deste superpredador. Até porque, como você deve se lembrar, a serpente no porão de uma casa em Broward era fêmea e protegia um ninho com cerca de 50 ovos.

Aliás, quando Bergeron analisou o local do ninho, parecia que alguns dos ovos já estavam se quebrando. "Por sorte, conseguimos encontrar e remover a grande fêmea e seu ninho inteiro de até 50 cobras bebês, as quais continuariam matando nosso precioso habitat", declarou Bergeron ao South Florida Sun Sentinel.

O interessante é que nenhuma licença é necessária para caçar pítons-birmanesas, nem existe um período determinado para essa atividade. O rastreamento desses animais foi transformado até em uma competição por meio do anual Desafio de Pítons, o qual encoraja as pessoas a capturarem o maior número possível dessas criaturas.

O caçador de animais selvagens locais, Mike Kimmel - do canal Python Cowboy do YouTube - provou ser bem talentoso nisso. Afinal, de 80 pítons encontradas durante o Desafio de Pítons de 2020, Kimmel foi quem pegou oito delas. Contudo, a região de Everglades ainda conta com milhares dessa espécie.

Em janeiro de 2020, Kimmel comentou mais a respeito da caçada das pítons-birmanesas em um post no Instagram: "Eu cacei dez dias seguidos, cobrindo milhares de quilômetros de represas e bosques [e] até dormindo no pântano". Ao que tudo indica, a recompensa por encontrar esses predadores é enorme.

Quem trabalha com isso recebe como pagamento algumas centenas de dólares do governo por cada píton capturada. Além de tudo, depois de sacrificadas, as serpentes podem ser utilizadas de outros modos. Por exemplo, Kimmel trata os javalis de sua propriedade com carne de cobra.

A pele de uma píton-birmanesa também pode ser usada para fabricar artigos de luxo, como bolsas, botas e carteiras. A pele destes répteis apresenta um padrão característico, sendo coberta por várias manchas mais escuras - semelhante à pele de uma girafa. Estas manchas, inclusive, não se apresentam de forma uniforme, aparentando ser mais como peças de um quebra-cabeça.

Conforme algumas pesquisas, o aumento do número das pítons coincidiu de fato com o significativo declínio da vida selvagem nativa de Everglades. Assim, vencer a batalha contra as pítons-birmanesas pode ser crucial para manter esta parte do estado em todo seu esplendor.